Adão e Eva: a história dos educandos mais idosos das Apaes de Santa Catarina
Postado em: 04/11/2022 16:42:21

Separados por 471 km, curiosamente os educandos Eva Cordeiro dos Santos e Adão Xavier não têm apenas a raiz etimológica em comum, mas são também os alunos mais idosos das Apaes de Santa Catarina. 

 

Eva, no auge de seus 98 anos, está matriculada na Apae de Ponte Serrada. Enquanto isso, em Florianópolis, seu Adão com 92 anos, segue alegre na APAE da Capital. 

Histórias de vidas que podem parecer simples no primeiro olhar, que não se entrelaçam, mas carregam muitas semelhanças e demonstram a alegria e vontade de viver mesmo enfrentando tantas dificuldades ao longo da jornada, agravadas pela deficiência intelectual. 


A inclusão de ambos na Rede APAE foi de extrema importância para a melhoria da qualidade de vida, contribuir para o desenvolvimento da autonomia e prevenir agravos por meio do atendimento às suas necessidades nas áreas de Assistência Social, Saúde e Educação. 


Esta é a essência do Movimento Apaeano - considerado um dos maiores movimentos da sociedade civil organizada do país, que existe desde 1954, e que busca a defesa de direitos e garantia de acesso à cidadania para pessoas em situação de deficiência com impedimentos de natureza intelectual e múltipla. 

 

Eva


No município de Machadinho, no Rio Grande do Sul, divisa com Santa Catarina, nascia Eva Cordeiro dos Santos, em 20 de agosto de 1924. Ainda quando pequena, a educanda perdeu a mãe e precisou morar com a madrinha em Concórdia, em Santa Catarina. Porém, depois de um tempo, Eva perdeu o contato com ela e não a viu mais.  

 

Não se sabe ao certo quando começou a residir em Ponte Serrada na comunidade de Vila Pouso dos Tropeiros. Mas, durante este período, morou com conhecidos que se responsabilizaram cuidando dela durante algum tempo.

 

Em 17 de julho de 2006, com 82 anos, a Assistência Social da cidade encaminhou Eva para residir no Lar dos Velhinhos São Roque, objetivando uma maior qualidade de vida, interação social e uma convivência em grupo. No local, divide o posto de idosa mais antiga do lar junto ao colega de residência Carlito Barreto, de 107 anos.

 

Infelizmente, Eva nunca foi procurada ou recebeu visitas de familiares. Mesmo assim, demonstra satisfação em se dedicar, contribuir, colaborar e ser útil nas tarefas diárias do lar para os colegas e cuidadores que hoje são a sua família e sua casa. 

 

É considerada pela coordenadora do Lar, Eliane Basi, cuidadores e responsáveis pela instituição como uma pessoa participativa. 

 

Em 2006, perceberam a necessidade de encaminhá-la para uma Avaliação Diagnóstica Multidisciplinar, e foi diagnosticada com deficiência intelectual moderada. Essa classificação compreende um atraso cognitivo caracterizado por desatenção, fluxo lento de ideias, erros perceptivos, dificuldade em associações, abstração e síntese. Além disso, pessoas com esse diagnóstico apresentam dificuldade em se expressar oralmente e seguir convenções sociais.  

 

No mesmo ano, Eva passou a frequentar os serviços do Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAESP) da APAE de Ponte Serrada. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais tem um papel fundamental no atendimento educacional, social e de reabilitação da Eva. 

 

Atendimento especializado 

 

Na APAE, Eva realiza todas as ações propostas, inclusive a autodefensoria, um programa que visa dar autonomia aos educandos com deficiência intelectual e múltipla e torná-los protagonistas na defesa dos direitos e deveres deles.

O trabalho desenvolvido pelas pedagogas com ela no CAESP/APAE, tem como enfoque a reabilitação cognitiva e motora relacionada às atividades de vida diária, realizadas em uma perspectiva de oportunidades, lazer e bem-estar.


Eva é considerada a usuária mais idosa que frequenta e participa dos projetos desenvolvidos na instituição.  No entanto, este ano, tem lutado com muitos problemas de saúde, e agora, vive uma rotina intensa de internações.


“Uma educanda bastante prestativa, querida e atenciosa, mas que neste segundo semestre de 2022 tem pouca frequência, pois vem apresentando problemas de saúde, explicam as professoras, Edna Kuszta e Patricia Gallo. 


Mesmo sem conseguir realizar muitas atividades que ela tanto aprecia, recebe atendimentos com equipe multiprofissional, interage com outras pessoas, diverte-se e alegra sua turma. 


A equipe da APAE de Ponte Serrada ressalta a preocupação em melhorias na estrutura e atendimento do público em envelhecimento. Devido a isso, buscam por parcerias e projetos que qualificam o atendimento às turmas de Serviço de Convivência, serviço este que a Eva usufrui. 

 

Adão 


Em 25 de abril de 1930, seis anos após Eva vir ao mundo, nasce Adão Xavier, na cidade de Xanxerê, em Santa Catarina.


Com uma história parecida, Adão perdeu os pais cedo, ainda quando criança, então foi criado por uma tia, e junto a ela se mudou para a capital catarinense. 


Desde muito cedo, ele apresentou as características de deficiência intelectual. Assim como Eva, também começou a frequentar a APAE já idoso, com 70 anos, em 2000. Sempre participou do grupo de alunos do Serviço de Convivência, o qual tem como proposta oferecer atendimento sócio ocupacional através de atividades culturais, de lazer e laborativas utilizando como diretrizes as áreas de habilidades domésticas, comunitárias, cognitivas, ocupacionais e de saúde, onde são colocados em prática, acompanhado de ações pedagógicas sistemáticas e de equipe multidisciplinar, auxiliando no processo do bem viver das pessoas com deficiência intelectual que estão em processo de envelhecimento ou já idosas.

 

Alma de jovem 


Sua popularidade na APAE de Florianópolis não se deve apenas por ser o educando mais idoso da instituição, mas é atribuída a gentileza e educação a qual trata colegas e profissionais em sala de aula. 


Gosta de participar de todas as atividades propostas, mas sua preferência é por cortar malha para tapetes e confeccionar tapetes amarradinhos. Por sinal, Adão tem uma talento especial para trabalhos manuais. Desde muito jovem confeccionava banquinhos e carrinhos de madeira para as crianças. Com a idade, esse talento foi deixado de lado. 


Conhecido pelos profissionais da APAE de Florianópolis como um idoso com alma de jovem, mesmo com 92 anos Adão deixou um espaço para o amor. O senhor nutre a muito tempo um sentimento platônico por uma colega do grupo.


“Ele está sempre preocupado com o bem-estar dela, dando atenção a pequenos detalhes para deixar sua amada confortável como: lhe oferecendo água, repartindo o seu lanche com ela, sentar-se ao seu lado sempre que possível, presenteá-la com mimos, puxar a cadeira para ela sentar, entre outras demonstrações de atenção e carinho, mas tudo sempre com o maior respeito e delicadeza”, comenta Roselaine Paz Perez, professora de Adão. 


Nos eventos onde a atividade é coletiva, como jogos de bingo com figuras e aniversários, Adão expressa entusiasmo. O educando tem uma perda auditiva severa o que lhe impede de verbalizar, tornando muito difícil a comunicação, entretanto, o senhor não deixa de aproveitar as atividades, e mesmo com surdez ele adora dançar com a enamorada. 


Este ano, completou 92 anos e ganhou uma festa de aniversário organizada pelos profissionais da APAE. Uma demonstração de carinho e amor por esse educando que faz parte da história da instituição. Uma celebração da vida de quem ama a vida. 


Estas e muitas histórias de vida são a essência do movimento apaeano: defender e garantir os direitos desta população por meio da integração familiar e comunitária, autonomia e qualidade de vida fazendo uso de propostas inovadores de inclusão social. Essa é a missão desta Rede que cada vez mais se fortalece. 

Fonte: FEAPAES-SC

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