Dia Mundial da Conscientização do Autismo
Bardini, Márcia Dal Toé Nazário
Pedagoga na APAE de Turvo- SC
Coordenadora Regional Científica da Regional Sul
Há quase 80 anos, em 1943, Léo Kanner, psiquiatra infantil austríaco radicado nos Estados Unidos, publicava um estudo em que 11 crianças apresentavam sintomas peculiares, destacando comportamentos estereotipados, problemas significativos na socialização e atrasos importantes na linguagem. Kanner nomeou tais características como pertencentes a uma nova patologia, o “Autismo Infantil”.
Passaram-se os anos e o autismo teve muitos nomes, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) sendo que atualmente é categorizado como Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essas mudanças na nomenclatura também repercutiram em seu conceito, sendo visualizado a partir de várias óticas, a área médica valida-se no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 (2013), considerando o autismo como um transtorno do neurodesenvolvimento, mental, comportamental e que as características autísticas aparecem no início da infância trazendo prejuízos no desenvolvimento e no funcionamento pessoal, social, acadêmico e/ ou profissional.
Por sua vez, Sacks (2006, p. 277), neurologista e autor consagrado, dizia que o autismo "[...] embora possa ser visto como uma condição médica, e patologizado como uma síndrome, também deve ser encarado como um modo de ser completo, uma forma de identidade profundamente diferente, de que se deve ter consciência." O autor nos lembra que é preciso ver o ser antes do diagnóstico, para além dos padrões imposto pela sociedade. O diagnóstico não pode ser a resposta para todas as perguntas. A pessoa com TEA não pode ficar à margem da sociedade, ela precisa ser vista, ouvida e valorizada. E Higashida (2014, p. 84), um jovem escritor japonês, não verbal, transcreveu como se sente dentro do Espectro Autista em contraponto aos padrões de normalidade:
[...] aprendi que cada ser humano, com ou sem deficiências, precisa se esforçar para fazer o melhor possível e, ao lutar para conseguir a felicidade, ele a alcança. Veja bem, para nós o autismo é normal, então não temos como saber o que os outros chamam de “normal”. Porém, a partir do momento em que aprendemos a nos amar, não sei bem se faz diferença termos autismo ou não.
Que avançamos muito no conhecimento sobre o TEA, suas características, metodologias de ensino e demais particularidades, isso é de conhecimento de todos, mas precisamos assegurar à pessoa com TEA seu poder de decisão, melhores acessos à educação, ao emprego e a participação social. Se no passado pessoas com TEA não frequentavam escolas, hoje elas estão em todos os espaços sociais.
Neste dia 02 de abril, restaure a importância da conscientização do autismo, lembre-se que as pessoas com TEA merecem mais do que monumentos azulados, elas e suas famílias clamam por respeito e que seus direitos sejam consolidados verdadeiramente.
REFERÊNCIAS
APA. American Psyquiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM – 5. 5. ed. Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BARDINI, Márcia Dal Toé Nazário. A produção de sujeitos com diagnóstico de transtorno do espectro autista no contexto da escola inclusiva: narrativas de profissionais da educação/ Márcia Dal Toé Nazário Bardini. – 2020. 162 p.
DONVAN, John; ZUCKER, Caren. Outra sintonia: a história do autismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 659 p.
HIGASHIDA, Naoki. O que me faz pular. Tradução de Rogério Durst. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014, 190 p.
SACKS, Oliver. Um antropólogo em Marte: sete histórias paradoxais. Tradução de Bernardo Carvalho. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, 359 p.
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