Congresso das APAES reafirma trabalho pela igualdade educacional
Postado em: 05/10/2021 12:24:41

A educação remota, imposta pelo processo pandêmico do coronavírus mundial, foi e continua sendo o grande desafio de todos os setores de ensino nacionais e internacionais. A carga de trabalho é ainda mais intensa, quando a referência é o aprendizado especial. Não é diferente em Santa Catarina. Justamente os obstáculos, os métodos empregados, as colaborações recebidas e as propostas futuras para a melhoria do ensino da pessoa com deficiência, foram assuntos marcantes durante o 17º Congresso Estadual das APAES de Santa Catarina, realizado durante os dias 21 e 23 de setembro, em Florianópolis, e que teve como tema “Educação Especial em Tempos de Educação Remota: Tecnologias e Práticas Interdisciplinares”.

Foram três dias de palestras, exposições, debates sobre teorias e práticas inter e multidisciplinares e grande atividade entre as APAES de Santa Catarina, tanto entre profissionais e espectadores presentes no auditório do centro de negócios Square SC, na capital, quanto em participações à distância (online).

No primeiro dia do evento, a presidente da Federação Estadual das APAES (FEAPAES/SC), Alice Kuerten, abriu os trabalhos lembrando histórias familiares. Ressaltou os desafios e a grande transformação que a tecnologia trouxe à educação especial durante a pandemia. “Temos muita estrada a percorrer, mas a junção de forças de vários setores pode diminuir a desigualdade ainda existente”, avaliou a presidente. “Que esse Congresso nos leve a pensar e repensar e a vencer os nossos desafios”, ponderou lembrando do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, em 21 de setembro.

Na sequência da abertura, o presidente da Federação Nacional das APAES - FENAPAES, José Turozzi, valorizou os 66 anos de existência da Apae no Brasil. “É a entidade protagonista da empregabilidade de pessoas com deficiência intelectual e/ou múltipla”, pontuou. Segundo estimativas repassadas por Turozzi, 16 mil alunos de APAES foram capacitados e incluídos no mercado de trabalho até 2019 e por isso, a importância da continuidade do repasse de verbas públicas.

Outro dado repassado pelo presidente nacional, é de que apenas 5,8% dos profissionais da rede de ensino público brasileiro teriam formação para trabalhar com os alunos com deficiência, um percentual considerado muito abaixo das expectativas. Entretanto, o País tem 1.304 escolas especializadas, 857 centros de atendimentos para atividades no contraturno escolar e 150 mil alunos que podem sofrer evasão da educação especial, caso a Justiça Federal decida pela inconstitucionalidade dessa modalidade tão importante de ensino.

Após Turozzi, deram boas-vindas aos participantes os autodefensores da APAE Claudemir Rizzi, usuário da entidade de São Lourenço do Oeste, e Rosa Maria da Silva, usuária da Apae de Porto União.

O próximo convidado especial foi o amigo da Apae e tricampeão de tênis em Roland Garros, Gustavo Kuerten, presidente de honra Instituto Guga Kuerten. Em sua autodescrição, como fizeram todos os participantes que explanaram no evento, Guga demonstrou seu contínuo bom humor e também o carinho pela Apae. “É a minha vez de estar ao lado do público e aplaudir”, considerou Guga. “Vou fazer o máximo para que a APAE seja sempre valorizada. E a gente sabe que pelo movimento coletivo, pelo trabalho em conjunto, é possível”, assinala.

A mestre do cerimonial, Bárbara Erig, deu continuidade à abertura repassando a palavra para a mediadora Regina Linhares Hostins, representante e educadora da Universidade do Vale do Itajaí, Univali. Ela destacou que as universidades têm compromisso com todas as iniciativas que dão oportunidades de ensino de qualidade para todas e quaisquer pessoas. “Trazemos para o debate esse novo modo de aprender e ensinar, mediado pelas tecnologias tão necessárias”, disse. E acrescentou: “Estamos realizando pesquisas importantes nas áreas da educação especial”.

A presidente da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), Janice Krasniak, aproveitou para lembrar que o Estado tem convênio com 250 instituições especializadas em prol da Educação Especial. Pelo Programa SC Mais Inclusiva, foi realizado chamamento público para investimento nas instituições especializadas em Educação Especial oportunizando a apresentação de projetos para a aquisição de equipamentos para atendimentos especializados, recursos e equipamentos tecnológicos, mobiliário educacional acessível e também transporte adaptado. Além disso, neste ano foram destinados, segundo ela, 27 milhões de reais para custeio dos atendimentos realizados nas APAES.

Sobre esses investimentos, durante a abertura da solenidade, o governador do Estado de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, ressaltou a qualificação da pesquisa feita pela professora Janice. “O dinheiro não é do governo. É do povo e para o povo deve servir”, sinalizou o governador, reafirmando o compromisso do Estado com a Educação Especial. Ainda esclareceu que existe a transferência de mais de 100 milhões de reais em projetos para a inclusão social, beneficiados pelas economias realizadas no governo, como revisões de contratos e reforma administrativa.

O vice-prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, presente à abertura, agradeceu o voluntariado do ensino especial. Também explicou que 150 crianças autistas foram beneficiadas com a liberação de uma piscina semiolímpica na Capital. “Dentro de nossas limitações, estaremos ampliando esses benefícios”. Sobre a pandemia, Topázio Neto relembrou a rápida liberação do aprendizado à distância, no início da doença no País. “Distribuímos 35 mil chips de internet para famílias que não conseguiam se conectar”. Finalizou dando a boa notícia de que a lei da internet 5G brevemente será implantada em Florianópolis.

A abertura do Congresso foi também marcada pela apresentação artístico-cultural dos alunos das APAES. A Companhia Lápis de Seda, criada em 2017, mostrou a dança inclusiva em parceria com a cantora Cláudia Passos, de Florianópolis.



Palestras

O Congresso Estadual contou com vários palestrantes, entre professores, profissionais da saúde e educação e mães apaianas, que expuseram os grandes desafios dos dois últimos anos, em função da educação remota. Entre eles, a mestre e doutora em Filosofia, Viviane de Souza Mosé, autora de 12 livros e indicada ao prêmio Jaboti. Ela palestrou sobre “Os desafios da educação remota para a educação especial”.

Viviane relatou que não é tão simples trabalhar educação para crianças de 5 a 12 anos de modo virtual. A dificuldade se sobressai ainda mais, na educação especial. “A educação remota vai permanecer de alguma maneira, nós temos que lidar com ela como realidade difícil para todos. Estamos juntos aprendendo sobre educação remota. Não há precedentes. Criticávamos o uso das telas, defendendo a brincadeira na rua, agora a internet é uma imposição”. E continuou: “Todas as crianças tem dificuldades e são especiais. O risco para a civilização não é a falta da tecnologia. O mundo precisa de novas pessoas capazes de amar”.

Com a palestra “Entre a Espera e a Urgência: os Desafios da Educação Especial em Tempos Atípicos”, a educadora Giovana Lunardi Mendes destacou o nível alto de exclusão de alunos entre 6 e 14 anos, e que a pandemia escancarou desigualdades como alimentação, segurança, habitação, e o conjunto de obstáculos entre escola e família. “Nós podemos refletir sobre o grande desafio nesse momento para a educação especial, pensando em conviver com medidas restritivas no que diz respeito à situação endêmica e em como a gente se estrutura e se organiza em relação a educação”. Para ela, o normal deixou de existir e que as oportunidades não devem ser perdidas.

A coordenadora de Educação Inclusiva da Universidade de Desenvolvimento de Santa Catarina, Geisa Kempfer Bock, contou com mediação da educadora Simone Spier, da Feapaes. Sua apresentação foi acerca dos “Relatos de práticas disciplinares exitosas em tempos de atividades remotas, com a importância das tecnologias no período de pandemia nas APAES de Pinhalzinho, Araranguá, Massaranduba, Três Barras e Iporã do Oeste.



Segundo dia

Andrea Xavier, diretora da Apae de Curitibanos, foi a profissional mediadora da abertura do segundo dia de Congresso. O palestrante Teófilo Galvão Filho dissertou sobre “Tecnologia Assistiva – recursos para a autonomia e inclusão social do estudante com deficiência”. Em sua explanação, Teófilo explicou que a tecnologia assistiva - presente atualmente na Lei Brasileira de Inclusão, é uma área do conhecimento que envolve vários fatores. “Entre eles, estão produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade relacionada à atividade e participação das pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida”. O foco, esclareceu, é proporcionar autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social a essas pessoas. A palestra mostrou recursos simples e complexos, que devem ser adotados pela Educação Especial, para proporcionar direitos regulamentados a essas pessoas. “Não apenas como favor ou algo opcional, a tecnologia assistiva tem relevância na sociedade brasileira e está prevista na LBI, para o exercício dos direitos das pessoas com deficiência”, anotou, lamentando que no Brasil ainda existam lacunas a serem preenchidas nesse aspecto.

O mediador Joao Leonel, da FCEE, auxiliou a dissertação da palestrante Clarinha Marinho, portadora de paralisia cerebral, que venceu seus obstáculos chegando ao ensino superior de Letras, na Universidade de Brasília (UnB). Com o tema “Meu objetivo é aprender, minha necessidade ensinar”, Clarinha deu um show de motivação aos participantes. Revelou que desde pequena foi acostumada a conviver com pessoas com algum tipo de deficiência e sempre se considerou normal. Enquanto crianças recém-chegadas na escola choravam para voltar para casa, Clarinha, com suas dificuldades motoras e de comunicação queria mesmo era aprender para poder ensinar. “Sofri bullying durante toda minha vida escolar, mas isso não me impediu de seguir adiante”, entusiasmou.

A mediadora Tania Pieczkowski, da Universidade de Chapecó, Unochapecó, abriu os trabalhos de explanação virtual das APAES de Brusque, Balneário Camboriú e São Bento do Sul. Foram dialogados sobre o Projeto Casa - oportunizando interação da família e instituição através de atividades funcionais, por Anelyn Pinheiro (Brusque). Fazendo Arte na Quarentena, de Jeane Medeiros de Souto (Brusque); Aulas remotas de música, a partir da perspectiva interdisciplinar – Professor Luciano Candemil (Balneário Camboriú); e Comunicação interativa e suplementar no trabalho remoto com participação das famílias, pela pedagoga Marília Gonçalves (São Bento do Sul).

 

Debates entre mães 

Ainda no segundo dia, houve roda de conversa entre mães de pessoas com deficiência. Mariana Lúcia Agnese Rosa, Adriane Dietrich Polazzo e Alice Kuerten trocaram experiências, sob a mediação de Mônica Joesting Siedler.

O assunto girou em torno das dificuldades enfrentadas pelas famílias no ensino remoto, as culpas, as responsabilidades, a ausência da atenção de terceiros e as necessidades das famílias que trabalham fora. Adriane inteirou os trabalhos, ressaltando que “nossos filhos não precisam de piedade, mas de oportunidades”.

 

Terceiro Dia

Após abertura do evento, a terceira e última tarde do congresso contou com a palestra do fisioterapeuta Diogo Ferreira. Ele apresentou a pesquisa: Os Desafios Impostos pela Pandemia. Logo após, “Autismo e Cognição: entendendo esta forma de pensar”, foi explanada pela profissional Viviane da Costa de Leon, com mediação de Juliana Pereira.

Posteriormente, foi realizada a apresentação de trabalhos artísticos nas diferentes linguagens e na sequência, a palestra “Privacidade, acesso à informação e internet: onde estão os meus dados e direitos?, por Paula da Silva, com mediação de Jean Baumer, da APAE de Rio do Sul e coordenador estadual da Saúde e Prevenção da Feapaes.

Para finalizar o evento, a palestra “Relatos de Práticas Multidisciplinares Exitosas em Tempos de Atividades Remotas”, foi discorrida por profissionais das instituições especializadas das APAES catarinenses, com experiências apresentadas pelas APAES de Balneário Camboriú, Pinhalzinho, Itapema, Camboriú, Timbó e Ireneópolis, sob mediação da profissional Regina Hostins, da Univali. 

Durante os três dias de Congresso, foram totalizadas aproximadamente 30 mil visualizações ao evento. Vale lembrar que todo o conteúdo debatido e exposto está gravado e ficará disponível para visualização a qualquer tempo, pelo canal do Youtube da Federação das APAES de Santa Catarina.

O 17º Congresso Estadual das APAES foi realizado pela Federação das APAES do Estado de Santa Catarina (FEAPAES/SC) com apoio do Governo do Estado, através da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE) e apoio de professores e alunos das universidades Unesc, Udesc, Univali e Unochapecó, e ainda do centro de negócios Square SC, da loja Studio Ambientes e da empresa Olé Telecom.



Texto: Silvia C. Bomm
Jornalista DRT 3930-JPPR
Arte/Fotos: RDV Digital

Fonte: FEAPAES-SC

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